NASCIMENTO

Nascer é algo esplêndido.
Significa que num momento muito intenso duas pessoas se desejaram, e a mais perfeita união entre o super-espermatizóide com o único óvulo tornaram-se um só, e meses depois este ser chega ao mundo.
A partir de agora não serão um casal, e sim um trio.
A mãe não será mais simplesmente a fulana de tal, e sim, a partir de agora terá outro nome, o belíssimo nome de mãe.
Nascimento, gestação, parto... essas palavras nunca me soaram fáceis.
Confesso que medinho sempre tive, e até em meus mais recentes pensamentos isso não seria concebido.
Não, eu não. Acho que não nasci para ser mãe.
Eu adoro crianças, me divirto com elas, mas ser mãe era algo muito distante, distante, tão distante.... até... PRRRRRRRRRRRRRIM! Meu relógio biológico um belo dia despertou, e a emoção aflorou.
Comerciais do Zaffari, entre tantos outros com temas familiares são os que mais me emocionam, e as cenas bobocas de novelas ou filmes passaram a ter uma intensidade, que vira e mexe, pronto, lá estão as lágrimas teimando em aparecerem.
E isso é bárbaro!
A mulher é um ser divino. Ela luta como o homem, mas ela se derrete e vive intensamente as emoções.
Ela ama e odeia. Ela pode ser delicada, bem como ser uma lutadora.
Não que os homens não amem e odeiem. Mas somente as mulheres, e alguns raros homens, sabem do real valor dos sentimentos denominados tolos pra uma grande maioria da humanidade.
E é de delicadeza que falo. O amor é delicado, é frágil.
Quanta fragilidade e delicadeza envolvendo um ser que torna-se protetor e defenderá com unhas e dentes quem ousar chegar perto de seu filhote.
Mulher, mãe, protetora, acolhedora, provedora, sonhadora, lutadora, realizadora... Enfim, é um desafio, é surpreendente, de certa forma dá medo... mas, com muita EMOÇÃO e FELICIDADE um novo ser está a caminho para deixar minha vida mais feliz.
Jeanine mãe, muito prazer!
(HOJE, 28/10/08, acabei de receber o resultado do Beta HCG sangüíneo: 57336 mUI/ml)
(Valores de referência: mulheres não gestantes: inferior a 25 mUI/ml) Ou seja, gravidíssima!
(*Jeanine de Moraes)

DEVANEIOS mais pra lá, do que pra cá...

Em meados de um inverno frio e úmido, nada aparentemente fora do comum, ao acordar, levantou-se, como sempre fazia. E logo após lavar-se, encarou aquela figura no espelho e desabafou:
- Eu vou enlouquecer!! Registro aqui o que vai acontecer. A cada dia, cada noite, cada simples ou complexo dia em minha vida, eu vou tornando-me mais convicta de que a lucidez não me pertencerá mais...
... mas, em algum momento me pertenceu?
O que é a vida? Viver? Dia após dia... e após dia... e o que há no dia-a-dia?
Veja os fatos, veja as fotos. A tendência é piorar? Lutar é divino? Buscar, buscar o quê? O que, se no fim (fim?) todos temos o mesmo fim = a morte.
Tenho medo... eu canso, e como canso de governar.
Por que eu sou assim?
Sono, sono. Dor de cabeça. Preguiça, uma incrível necessidade de me esconder. De fugir. De correr. De mudar.
É melhor ficar longe de mim...
Não sei se é uma influência interna de alguma alteração metabológica, devido aos remédios, indicados pelo neurologista – os antidepressivos – ou se é a uma influência externa, diretamente ligada ao meu inconsciente... não sei. Não sei mesmo.
Talvez alguns desejos, algumas ambições que não dependem apenas da minha ação...
Só sei que a minha reação/atitude nestes últimos dias me faz, de certa forma, agir assim... assim como estar com esta estúpida cara de paisagem... ããh?! É, assim mesmo!
Assim e ponto. Sem responder aos estímulos, sejam eles: pessoas ao meu redor, músicas que me animavam, atitudes associadas às lembranças...
Que nada!
Não sei se é uma reação desta droga de cloridrato de amitriptilina, indicado a depressivos... ou se é influencia lunar, hormonal, atemporal... sei lá.
(*Jeanine de Moraes)

E A VIDA? Diga lá meu irmão!

A história da minha vida não é fácil. Ou melhor, não foi fácil.
Nunca foi.
Eu não precisaria de alguns capítulos, mas de muitos.
Cada situação, cada recordação, cada acontecimento. Momentos que não, não, não, não voltam mais...
Hoje, adulta, tenho a minha única e exclusiva vida, na qual passado, família, amigos e trabalho são ramificações.
Hoje eu faço as ligações entre os fatos e minha vida.
Tenho uma única vida, aqui e agora. O ontem, a adolescência, a infância já passaram.
Porém, têm coisas que não passam nunca.
Eu e minhas reflexões...
Eu e meus devaneios...
Eu e meus desabafos...
100 / 50 / 25 = 20 / 17 / 13
Capítulos? Anos? Números? Horas? Minutos? Segundos?
O que vejo no espelho não reflete o que eu era antes.
Mudanças físicas, mudanças interiores, amadurecimento, crescimento, discernimento. Enfim, 30 anos de vida (viva!) são 3 décadas. Anos estes que até me assustam.
Muitas vezes me surpreendo com tanta preocupação que o homem (ou melhor dizendo, a mulher) tem acerca da vida.
E quando o assunto é idade, então? Para uns é uma invasão de intimidade. Perguntar a idade pra uma grande maioria não é polido. Para uma dama? Jamais pergunte sua idade! A não ser que vá elogiá-la e dar um “desconto”...
Idade é cronológico. Nascemos no ano tal, e na média de a cada 365 dias este número aumenta. É crescente, graças a Deus! Imagine se regredisse? Chato... eu acho. No mínimo muito chato, pois o legal é somar e não diminuir!
Somar, aprimorar, crescer, evoluir... sempre!
Se estamos diferentes do que éramos, viva! A mudança sempre é válida.
Mudar o corte de cabelo, de cor, crespo, liso, longo, curto, careca...
Cada um tem seu motivo. A razão cabe somente a si próprio.
Porém, mudar para melhor!
Mudar com convicção. Aproveite esta possibilidade.
Pois não podemos escolher se queremos envelhecer, mas sim, como e se queremos ser velhos ou jovens de espírito.
Não escondo que tenho 30 anos, e desde março estou começando a compreender que ser uma trintona (não tiazona, pelo amor de Deus!) é bárbaro!
Assim como muitos escritores já escreveram sobre esta maravilhosa fase da vida, eu também reafirmo que a maturidade, a realização e a despreocupação com certas questões de outras “temporadas” são bárbaras.
Ser dona do próprio nariz, estar feliz solteira, enrolada, casada. Se separar, casar de novo, namorar, estar com quem de fato vale a pena.
Realizar sonhos. Carreira, casa, automóvel, filho, marido, esposa, tudo é maravilhoso e somente ali, na “beira” dos trinta anos que, de fato, percebemos o real valor.
Pra mim foi assim.
Pra alguns essa realização chegou na casa dos 20 e poucos, ou 20 e todos, ou nos 30 e lá vai... Talvez ainda não chegou.
Enfim, não falo de números. A cronologia serve para identificar e não definir ou designar.
É com a maturidade que percebemos e mantemos os verdadeiros amigos. Aqueles que estão contigo por seres o que és, e não pelas aparências.
A maturidade traz novas preocupações, mas abre os olhos à qualidade.
(*Jeanine de Moraes)

IMUNIDADE

Ai, meu Deus, como eu queria um bom emprego para ser feliz. Ai, meu Deus, quem me dera ter uma baita casa, com piscina, dois andares. Quem me dera viajar pelo mundo. Um cartão de crédito ilimitado, e com muito crédito. Aquele caro do ano, o carro da moda.
Tanta coisa, tantos desejos e aclamações... Tantos pedidos... Tanto que Deus é aclamado, é chamado em vão!
Houve uma época em que eu queria muito. O que eu queria? Ora bolas, eu não queria ser a mais bonita, ou a mais famosa da escola, pois eu sempre fui aquela brincalhona, a engraçada, a “boba da corte”, aquela com alto astral, que não brigava, que não ficava chateada com nada. Sim, eu era assim... era?!
E todo mundo me via de um jeito, e esse era o jeito de eu esconder, dentro de mim, a minha dor, a minha timidez. Sim, êta timidez que me deixava insegura, medrosa, apavorada de tudo.
Apesar disso, eu não queria ser o que eu não era.
Jamais me preocupei em ser a mais bonita - além do que eu era uma magrela comprida de longos cabelos negros e lisos que escondiam meu rosto -, jamais me preocupei em se a mais inteligente – sempre estive na panelinha das mais inteligentes, jamais queria ser a mais querida, a mais legal, nem mesmo eu queria ser a mais divertida.
Vou contar o que eu mais queria, aliás: o que eu não queria!
Eu não queria chorar pela dor da perda do meu pai. Eu não queria ficar com ciúme quando ouvia alguma amiga/prima chamando o seu. Eu não queria me sentir sozinha no mundo, pois ninguém me compreendia, ninguém entendia minha dor, pois eu não sentia apenas a dor de uma filha que perdeu o pai... eu sentia a dor da trágica morte dele. Eu sentia que meu passado somente era o que eu tinha. Eu só tinha o passado comigo, o futuro, futuro?! Quem era eu pra pensar nisso...
Como? Partindo de qual princípio?
Foi difícil, puta-que-pariu como foi difícil. Como chorei. Como me senti perdida. Como me senti sozinha. E como andei sozinha.
Por muito tempo eu detestava comemorar meu aniversário. Dia 25 de março era muito triste para mim, e não por eu estar envelhecendo, e sim por ser a véspera da data que perdi meu pai.
Mas felizmente a vida é dura, e as dores não são eternas. Felizmente há perdas, e muitos ganhos. Hoje em dia eu adoro meu aniversário, adoro comemorar, adoro quando as pessoas lembram de mim. É bem fácil de lembrar: meu aniversário é conhecido pelos consumistas, é o dia que dá nome àquela rua famosa pelas muvucas de São Paulo, a famosa 25 de março!
A comemoração do aniversário é uma data muito legal. Como na língua inglesa, birthday, é o dia do nascimento. Então, comemoremos a vida!
E eu tenho três décadas de vida, vida, louca vida, isso sim!
Mesmo que, tristemente, um dia após a data do meu nascimento, é da data do falecimento de uma pessoa que foi muito importante em minha vida, eu vibro por estar tendo, dia-a-dia, ano após ano, a oportunidade de ser FELIZ.
Se há 17 anos atrás (mais que o dobro de minha jovem vida) me perguntassem o que eu queria, talvez até eu diria imunidade. Mas, sem dúvida nenhuma, seria uma família!
Eu não queria nada de luxo.
Queria tanto poder ter meu pai perto. Ele que ia às reuniões da escola, que pegava e assinava meus boletins, que se preocupava e comprava Enciclopédia do Estudante (pois a Barsa era cara!) para nossos estudos.
Não quero menosprezar a minha mãe, mas meu pai foi meu ídolo. Meu pai foi uma pessoa humilde, super simples, trabalhador, honesto e com um histórico de vida que me emocionava, mesmo eu sendo uma criança.
As pessoas nascem e morrem.
Somente o fim é certo na vida.
Não temos imunidade suficiente para viver eternamente.
Mas temos o presente. Por isso que não sonho muito com o futuro, por isso que não sou muito ambiciosa.
Cuidado! De repente, num instante, PUFT!, tudo se torna passado.
(*Jeanine de Moraes)

O VOO no quarto 90

As horas não passam. Parecem conta-gotas... pim... pim... pim...
O medo, o ambiente, o cheiro nauseante. Tento disfarçar, pensar longe daqui, pensar em coisas boas... Mas não passa... o tempo não passa! O tempo voa mesmo? Aqui, não!
Andar de avião: que medo! Que pavor! Que náusea! Que dor de ouvido! Que desconforto! Que frio!
Dentro do avião, contando os dedos, esperando as horas passarem, contando os segundos, imaginando longe, longe, longe, pra ver se as horas passam... e nada!
E o pânico? E o barulho? E eu, apertada, desconfortável naquele aperto? O barulho de que mesmo? Que medo do momento do vôo... VRUUUUUM!
E do pouso? Não sei qual foi pior... Aliás, sei sim! O pouso era sinal de que havia terra, e que eu estava, novamente, no chão! Viva! Um viva e eu estou viva!
Já, passar a noite, passar a madrugada num hospital velando um doente, mesmo sendo a própria mãe, é algo assustador!
Não, não sei se é mais assustador um vôo de 6 horas (Porto Alegre-Recife) ou a experiência de passar 6 horas (pra mais) dentro de um hospital.
O medo, o ambiente, o cheiro nauseante, conversas fúnebres, orações muitas vezes só da boca fora.
Experiências únicas!
Em ambos o medo e o ar de morte, de pânico, de dor no ar. A mesma vontade de sair correndo... e estar impossibilitado.
Em ambos precisamos de ar, necessitamos de ar!
No hospital há o compartilhamento de experiências, de dores, de esperança, de pavor... caras e sentimentos pedindo socorro.
Socorro! Me tirem daqui!!
E no avião, como no hospital, acontece tudo, dentro de mim!
Avião e hospital: lugares necessários, lugares de passagem!
(*Jeanine de Moraes)

VISÃO 3D

Tudo é de fato relativo? É realmente uma questão de visão, ou seria de adaptação?
No primeiro momento alguns fatores são os mais marcantes, como o ambiente num geral, o cheiro e como as ações acontecem.
Quando se é meramente um coadjuvante, ou, “epa! peraí, o que eu tô fazendo aqui?”, ou seja, quando as cenas ocorrem sem nossa força maior, é algo involuntário, e tu apenas participa do fato... é aí que tudo foge do teu alcance.
Como agora, no parágrafo acima, tentei explicar o meu pensamento, e creio que, no primeiro momento, pensamentos aflorando, a digitação é mais lenta que o raciocínio, talvez eu possa não ter sido clara. É, é possível... é tudo tão relativo...
Há uma maior variação, ou a menor, dependendo da nossa ótica, da nossa visão, percepção, capacitação... adaptação?
O universo é complexo. Muitas coisas parecem ser tão sem nexo e eu, muitas vezes, fico tão perplexa com meus reflexos, conflitos e devaneios... e de vez em quando é preciso fugir, e eu me desconecto.
Será que o homem se adapta ao mundo, ou vivemos num mundo meramente adaptável?
As ações modificam o homem, ou de fato o livre arbítrio funciona e o controle remoto fica em nossas mãos?
Sou parte desse mundo, ou o mundo é uma parte desse eu?
Tudo é relativo, complexo e hoje em dia, tão anorexo.
(*Jeanine de Moraes)

VOCÊ tem fome de quê?

Você tem fome de quê? Você tem sede de quê? Você acredita no quê?
Você é o que você come? Ou você é o que você acredita?
Você é suas ações, ou você é o que os outros pensam de ti?
Não, nada acontece por acaso!
Creio que nada acontece por coincidência. O universo realmente, completamente e inteiramente conspira para que as coisas se movam e aconteçam.
E sim: toda ação gera uma reação!
Segue uma reação, de uma ação vivida por mim, em abril de 2003, após um encontro com minhas sistas:
...
Hoje eu aqui, nessa cama, sozinha, com vontade de escrever, só ouvindo o tic-tac do relógio e o ruído da caneta nesta agenda não estão acontecendo por acaso! Agora exatamente são 22 horas, e a exatamente 1 hora atrás eu estava lutando com meu corpo... “Não, de novo não!”, “Não acredito!”, “Ai, nãaaaao...”, “Droga, esse ônibus que eu perdi, droga, agora é esperar o próximo...”, “E essa droga que não vem...”, “Não, de novo não...”, “Não agüento mais esse chiclé....”, “Argh, não agüento esse cheiro horrível, cheiro de sei lá o quê nessa rodoviária...”, “E essa droga de ônibus que não vem...”, “O 20h30 passou adiantado, e o das 21h nem sinal...”, “Argh, que cheiro podre, cheiro indescritível que está me fazendo mal...”, “Ai, de novo nãaaao!”, “Ai, que nojo, que nojo...”, “Estou ficando mal... se ao menos eu pudesse sentar...”, “Tô ficando tonta...”, “Preciso de ar...”, “Não, não posso respirar esse cheiro de banheiro público...”, “Tô sozinha... tô passando mal...”, “Peço ajuda?”, “E o ônibus, caramba, que não vem!”, “Ai, de novo nãaaao...”, “O que eu faço... corro pro shopping? Ligo pro Xandy? Não, ele não viria...”, “Ai, de novo nãaaaao...”, “Credo, vou desmaiar!”, “Sim, eu vou desmaiar!”, “Preciso sentar...não tem banco, vou sentar no cordão...”, “Que se danem!”, “Eca, esse lixo de rodoviária!”, “Vou sentar aqui, no meio-fio mesmo...”, “Ai, aliviou 3%, um leve vento...”, “Um vento misturado com esse cheiro de sujeira... mistura de cuspe, resto de refrigerante, sorvete, chiclé, toco de cigarro... cheiro de imundícia!!”, “Cheiro de gente suja e azenta...”, “Prostitutas, velhos bagaceiras, de gente que está ali como mais uma, simplesmente mais uma, terça-feira a espera de mais um ônibus, naquela imunda e fedorenta rodoviária...”, “Vejo pequenas estrelinhas, tá tudo branco...”, “Agora que eu caio...”, “De novo nãaaao...”, “Fundo, vou respirando fundo...”, “Ônibus! Meu ônibus chegou finalmente!!”, “Tô ruim, será que eu agüento...”, “Vou pro final do ônibus, quero me esconder... quero ar, vento, quero sair dessa sujeira!”, “Não, é melhor ficar por aqui...”, “Não, de novo nãaaao...”, “Nãaaaaaaaaaaaaaaaaaao!!”.
E no banco, atrás do motorista, entre o cobrador, dei 2 “golfadas” de vômito...
“Desculpa!! Perdão!!”, “Mil desculpas, senhor cobrador, mas foi incontrolável!!”.
Não respondi por mim, meu corpo reagiu...
Óh, não, de novo não!
...
Nada é por acaso... isso é verdade... mas o que meu vômito tem a ver eu não sei. Só sei que a pizza de alichea talvez me fizesse menos mal que a 4 queijos... tá bom, tá bom, 1 chopp e meio também tem a ver com meu vômito... Mas isso nunca, nunca, nunca, NUNCA me aconteceu: jamais vomitei por ter bebido álcool (muito menos por 1 copo e meio de chopp) e JAMAIS eu havia vomitado num ônibus...
Tudo tem sua primeira (e espero que única) vez, e nada é por acaso!
(*Jeanine de Moraes)

CONFLITO


Conflito já é uma palavra que tem algo a mais, um plus: CON+FLITO!
Com isso, com aquilo e com mais trocentas coisas é que vive pensando, refletindo, devaneando, mirabolando a mente humana, especificamente a mente feminina.
A cada dia, vivenciando os fatos cotidianos, eu chego ao mesmo pensamento: na próxima encarnação, se assim eu puder escolher, quero ser homem!
Quero sim! Eu confesso, gente! E não é porque o homem não ovula, menstrua, ou não tem cólica, pois nos dias de hoje, só menstrua quem quer.
Digo, e reafirmo, que eu adoraria ser homem...
Em princípio, tu já viu homem com crise de sentimentalismo? Okay, assim como certamente tu, eu também já conheci e conheço alguns casos raros (quase em extinção) do sexo masculino que são sensíveis, sentimentais... e que não são gays! Sim, eles existem.
Mas a grande maioria não está nem aí e nem esquenta cabeça com um décimo das neuras que nós, mulheres, enfrentamos.
Minha grande amiga Cris Martins, em seu blog escreveu, no texto “Momento Queratina” sobre nós, mulheres, vivermos em nossos mundos, e que “.. convivendo com outras mulheres acabamos nos convencendo de que somos normais, cheias de esquisitices e anomalias visíveis somente ao olho do clínico bicho-homem..” . Questionadora como só ela, ainda deixa algumas perguntas, que repito aqui “..ficaremos nós mulheres eternamente mal entendidas? Mal interpretadas? Sendo vistas pelos homens como seres extra-terrestres que jamais darão possibilidade de auto-conhecimento? ..”
Bom, pois é. E eu pergunto, pra que a gente se descabela e escabela preocupada com tantas coisas, com isso e aquilo e mais aquele outro lá?
As pessoas são únicas, diferente de sexo, idade, região, religião, time de futebol, enfim, uma lista enorme.
A mente humana é muito complexa. A mente feminina, então...
Por isso adoraria ser homem. Ser homem de verdade, pois de mentirinha eu já fui.
Uma vez, na escola, no meu segundo grau - hoje o ensino médio- o grêmio estudantil, inventou um correio, para criar o hábito de comunicação, e para que os alunos se conhecessem. Para incentivar a troca de cartinhas e bilhetes foi permitido esse intercâmbio entre as turmas, inclusive entre turnos.
Ou seja, comunicativa e curiosa como sempre fui, achei o máximo, e minha mente voou longe, e tão longe, que a partir de um recadinho na classe de minha colega, onde estava escrito mais ou menos assim: “olá, meu nome é Fulana de Tal, sou do turno da manhã, turma tal do 1º ano. Tenho 15 anos, sou baixinha, magrinha e adoraria me corresponder com quem senta aqui nesta classe, de preferência ser for menino.”
Pronto! Cutucou a onça com vara curta!
Foi aí que o Jean - qualquer semelhança é mera coincidência- um rapagão, moreno alto, forte, 18 anos, solteiro, baladeiro, entrou em ação!
Nos primeiros contatos nos matávamos – eu e minhas colegas - de rir, e mais ainda relembrando que já fomos tolinhas em acreditar em amores platônicos, sonhar com alguém que não conhecíamos ao vivo. E neste caso, que nem existia.
Hoje em dia, sei lá, perdeu a graça. O Orkut acabou com esse charme, essa surpresa e curiosidade. Pois vejam bem, todo mundo é lindo. Sim, ninguém coloca foto feia, espinhenta ou corcunda. Além do que todo mundo se ama. Todo mundo faz questão de declarar que é melhor amigo de todo mundo. E o pior de tudo, todo mundo fuxica a vida de todo mundo, colocando e encontrando falsas informações, e deixando muitas vezes de conhecer pessoas legais e demonstrar de fato quem realmente é.
Mas isso não é bem o que eu queria concluir com o assunto inicial... enfim, com certeza, se homem eu fosse, acho que não me prestaria a escrever e me preocupar sobre um assunto tão fútil...
Fútil? Relacionamentos não são fúteis. E, pimba! Tá aí porque entrei no assunto Orkut. Cartinhas, bilhetes, scraps, depoimentos, tudo faz parte da nossa rede, seja virtual, real, ou irreal, principalmente de interesse feminino... inclusive, fazem partes dos nossos conflitos.
(*Jeanine de Moraes)

A VIDA não é bolinho, não.

Barbaridade! Como há diferenças neste mundo. Uns vivem numa miséria, numa pobreza que mal têm o que comer. E quanto mais pobres são, mais filhos têm.
Triste, triste mesmo, pois eles próprios não têm noção da atual vida, da atual realidade em que vivem, e do mundo. E o futuro? Nem sabem o que é isso. Não há administração, não há perspectiva de vida... Triste mesmo.
Venho de uma família pequena. Mas eu também já sofri por ser pobre, digo que passei momentos de constrangimento por não ter nem pão e leite em casa, e termos que comer bolinho frito (nego deitado, que é sem fermento), com café preto! É... isso me deixava indignada, pois não éramos tão pobres assim, mas sim o problema era de administração, administração das contas familiares da minha mãe... não falta de dinheiro, e sim, de competência. Uma coisa é não ter dinheiro, outra é não saber mantê-lo, administra-lo e “gostar” da vida de bolinho.
É, ter que comer bolinho não era nada legal. Por isso que por muito tempo passei longe do café preto. Não, muito obrigada.
Felizmente, o destino está em nossas mãos, e aprendemos com os exemplos que encontramos. Alguns seguem os maus exemplos encontrados, outros, pegam estes e utilizam como seus exemplos de vida, de vida que não querem.
Desde que me dei conta de que eu era gente - vou definir “gente” como quem pode agir por si próprio - tomei a conclusão de que eu ainda não sabia o que eu queria da vida. Entretanto, eu sabia muito bem o que eu não queria para mim.
Cada um sabe onde seu calo dói, onde o sapato aperta, onde o joanete incomoda. É só procurar um pedólogo, uma pedicura, trocar de sapato, andar descalço, ou seguir a vida, acreditando (e aceitando) que pé de pobre não tem tamanho.
Uma vez uma vidente, aquelas mulheres que colocam cartas para ver o futuro, falou de mim para uma amiga. E segundo a senhora, que admirou-se quando “leu” a minha carta, disse que eu era uma pessoa muito rica, e que se eu não era ainda, seria, e muito.
Enfim, ela acertou! Rica eu sou mesmo! Olho para trás e vejo tudo o que vivi, meus dramas, traumas, tragédias, e hoje, sem querer ostentar bens materiais, eu sou o que transpareço: vivo independente do meu passado, com emoção em busca de realizações, em busca de tranqüilidade, de amor, de paz e fidelidade.
Não sou uma pessoa orgulhosa, sou bem simples por demais, e gosto de ser assim, mas tenho muito orgulho de mim, e gosto mesmo da minha vida. Luto por meus ideais, realizei sonhos, continuo realizando e realizarei mais ainda.
Não me conformei com situações difíceis, algumas tremendamente trágicas, que enfrentei, e que podiam ter me predestinado a uma vida insossa.
É preciso acreditar em si, ter fé, e partir pra luta. A porta do zoológico será aberta, pois engoliremos sapos, encontraremos raposas, pentearemos macacos, tomaremos coices, patadas, mijadas... Muitas vezes será preciso também colocar em práticas as aulas de que eu nem tive, mas sei que era do currículo em mil novecentos e antigamente, as tais aulas de Técnicas Agrícolas, pois será preciso temperar pepinos, cortar abacaxis...
É, meu amigo, a vida não é bolinho, não!
Mas também não morri de fome, ao menos bolinho frito tínhamos. Ô coisa mais sem graça... triste.
(*Jeanine de Moraes)

QUANDO uma estrela se apaga.

As estrelas, astros luminosos no céu, com seus brilhos incandescentes, parecem tão superiores, pois são intocáveis, estão tão distantes, e têm a assustadora capacidade de viverem milhões de anos.
E assim, desse jeito nada simplório, que Estela se autodenominava. Não porque seus pais a batizaram com este nome, Estela, “aquela que descende das estrelas”, mas pela sua personalidade de ser sempre brilhante, ofuscante aos olhos de todos. Ela era um mistério.
Assim era Estela.
E como todo ser estelar, as estrelas, e os cometas iluminados, se apagam. Acabam-se. Somem. Desaparecem.
Alguém lembra de alguma estrela que se apagou? Afinal, estrelas cadentes existem porque elas se movem? Ou porque elas caem? Mas por que elas brilham? E por que elas se apagam?
Elas teriam vivido o suficiente nesse mundinho galáctico e, pronto, fim?
E era assim que Estela se sentia... ou melhor, era assim que pressentia que seu fim estava por vir. Sentia que nada mais fazia sentido. Sentia que nada mais tinha o mesmo sabor, o mesmo cheiro, o mesmo prazer.
Ela simplesmente cansou de brilhar. Cansou de ofuscar. Cansou de ser Estela. Cansou.
Quando pequena não sonhava em ser astronauta, mas queria ser aeromoça. Voar para longe, viajar pra bem longe.
Imagine só uma aeromoça? Era algo tão distante da sua realidade, como estavam as estrelas lá no céu. Não apenas em distância quilométrica, e sim de mundos e meios.
Na infância de Estela, em sua mente simples de menina pobre, o que se imagina pode ter valores insignificantes a um adulto, mas para ela, sua dimensão de mundo não fugia muito dos acontecimentos em seus sonhos, vividos em seu pequeno mundinho.
Voar e fugir talvez já estivesse implícito nos desejos da menina. Talvez ali, quietinhos, quase declarados, mas ainda intocáveis, porém existentes dentro daquele pequeno coração. Coração solitário, mas muito ouvinte e observador. Sonhar nunca foi difícil. Simplesmente ouvir as pessoas, escutá-las e retratar em sua imaginação era o que de mais bárbaro podia vivenciar. E era de graça. Uma diversão gratuita.
Quando foi não importa, mas o sonho de se tornar aeromoça veio ao chão quando, como tudo na vida, além de apoio emocional, precisa-se de apoio financeiro. E infelizmente ela não tinha nem um, nem outro.
Pode parecer banal para quem nunca viveu grandes perdas, grandes dramas, grandes desafetos, grandes mágoas e dores. Quem (felizmente) ainda não viveu jamais tem, teve ou terá uma visão real das coisas que Estela vivenciou. Será meramente cordial, e até superficial. Mas, pra quem compreende do que Estela sentia, sabe do quão trágico é estar incapacitado de agir, e saberá interpretar que os sentimentos de alegria se mesclam aos de angústia, e a covardia pode se tornar característica marcante.
E assim Estela estava.
Uma completa covarde.
Completar três décadas de vida talvez tenha sido um dos fatores que a levaram a esta patologia. Mas por quê? É a lei da vida. Ano após ano, a cada 365 dias, exceto os anos bissextos, a idade cronológica é contada e somamos.
Porém, envelhecer não é apenas somar... pode ser também diminuir. Pode ser dividir. Pode ser multiplicar. Pode ser anular.
E contra a anulação foi que Estela mais lutava, nestes anos vividos, pela construção de sua identidade. Porém, infelizmente era o que a retratava.
Anulação de personalidade é algo que hipocritamente muita gente vivencia. Esposas e maridos que, por preguiça, medo ou comodismo, aceitam as regras ditadas pelo cônjuge e vivem em uma completa anulação dos seus desejos, sonhos e de até suas necessidades.
Há ainda como anular-se usando máscaras. A sociedade nos impõe o uso destas máscaras. Aqueles que não as usam não são normais. São tolos. Aliás, são os carneirinhos que serão abatidos pelos tigres, leões e lobos, sempre famintos para o ataque dos fracos. É a lei da selva. A lei da sobrevivência. Somente os mais fortes sobrevivem. A sociedade não forma fracos. A sociedade gradua para a vida-selva, e não a vida-harmonia.
Mas a pior de todas as formas de anulação é aquela em que o indivíduo esconde e finge para si mesmo.
Estela não queria mentir para si mesma. Estela cansou desse tipo de mentirinha. Ela cansou de mascarar-se para agradar a todos com quem se relacionava.
E um dia ela pensou. Ela refletiu, e se questionou. Viver? Para quê? Por quê? De que adianta?
Uma pessoa sem sonhos é como um céu cinza. Pessoas sem sonhos não passam de meras estátuas, pois estão sempre ali, com a mesma cara de paisagem de todo o sempre.
Em toda história há os coadjuvantes e os personagens principais. Quem viveu uma infância em busca de esperança compreenderá a simplicidade de pequenos gestos, e compreenderá que antes ser um mero, ou mais um, coadjuvante, do que nem sequer estar em ação.
Ser dona do seu destino sempre foi sua bandeira. Sem apoio afetivo, sem embasamento concreto de suas raízes, vivendo apenas com valores superficiais, foi que Estela buscou tornar realidade uma vida básica. Esta era a denominação que ela buscava, uma vida simples e verdadeira, que sonhava ter.
E mesmo que pareça simplório esse desejo, somente quem conhece seus fantasmas interiores compreende que a mente humana é capaz de criar anticorpos, tanto quanto generalizar um câncer.
A conspiração universal existe. É provado, registrado, e o ser mais incrédulo haverá de concordar, um dia irá.
Toda ação gera uma reação, e é essa a conspiração universal mais real que existe. Pessoas alegres, não são atraentes porque o signo do zodíaco as rotulou assim. Pessoas contentes atraem bons fluidos, e emanando boas energias, as atraem. Não é preciso divulgar com um segredo desvendado. É tão simples quanto as necessidades fisiológicas, beber líquido quando estamos com sede, nos aquecer quando estamos com frio, gritar quando sentimos dor, e etc.
O mundo vive o constante da ação e reação, e os meros seres humanos, com seus turbilhões de sentimentos, idem.
Desejar algo com o mais árduo desejo pode ser o primeiro passo. Porém, cair do céu, somente chuva, tragédia de avião ou algo do gênero.
Se nós somos o que comemos, somos o que desejamos.
E Estela estava vivendo o seu mais novo e temido paradigma: o desejo de não ser.
Todos nós somos movidos por desejos. Alguns desejos se modificam com o passar dos anos. Alguns sonhadores conquistam o amadurecimento, e mudam seus sonhos. Deixamos de lado os desejos infantis, desejos juvenis, e passamos aos desejos e sonhos do fantástico mundo do ser adulto.
O mundo atual, e real, pode ser tão frustrante. Talvez seja esta descoberta que tornou a vida de Estela tão vazia.
De que adiantava todo esse questionamento? De que adiantaram os gritos de socorro?
Não adianta gritar. Os fantasmas aparecem sempre quando todos já foram dormir.
E assim, tudo chega ao final. Tudo tem início, meio e o tão temido FIM.
Estela não foi a única, nem foi apenas mais uma. Ela pode ser sua irmã, sua amiga, sua mãe, sua tia. E, não tenha medo, ela pode ser eu, bem como ser você.
*Jeanine de Moraes