Eu já chorei escutando uma música, já chorei
assistindo filme, e já chorei lendo um livro.
A leitura do “A menina que roubava livros”
fez eu me lavar chorando.
Me emocionei muito. Foram lágrimas desde o começo,
e mais lágrimas (muitas) no final da história.
Em síntese, é sobre o sentido da existência e a
certeza da morte, com o encanto da leitura, da alegria e da dor das
experiências.
Esta obra é um drama
fantástico, que se passa na Alemanha entre os anos 1939 a 1943. Relata a
importância das palavras, que influenciam, seja para o bem ou o mal, e que
servem também para acalentar os corações fragilizados e inseguros.
Este livro tornou-se um dos meus preferidos, pois,
além de me emocionar informando com os fatos – a história acontece no período
do holocausto – faz pensar não apenas sobre a morte, mas sim sobre a vida, a
fragilidade e a paixão pelas palavras, e que, assim como a estupidez de Adolf
Hitler, a estupidez humana se repete.
Só pelo título eu já fiquei com vontade de ler. Depois
gostei muito da capa, ouvi alguns comentários de quem leu e gostou e eu
consegui emprestado. Pela descrição da contracapa já se espera uma história
muito interessante: “Quando a morte conta uma história, você deve parar para
ler.” Macabro? Assustador? Não acho.
Também rolou uma certa identificação, não apenas
porque eu já roubei livros quando menina, entretanto, eu também me identifiquei
com a personagem pela paixão pelos livros e com as experiências tristes dela,
que encontrou a morte algumas vezes.
Eu perdi pessoas amadas e importantes, e mesmo
assim a morte não me dá medo. Medo tenho de uma vida vazia e sem graça. Medo
tenho, apenas, da dor física da morte.
Assim
como a Liesel, eu sempre fui apaixonada por livros. Talvez por ser tímida e me
achar solitária, me acalmavam e faziam companhia as palavras mudas nos livros.
Eu me “perdia” nas leituras quando, com a minha
família, íamos visitar a casa de alguém, e me ofereciam gibis ou livros. Eu ficava
fascinada e não via a hora passar. Queria tanto ter um livro, mas não tinha
coragem de pedir.
Um dia, com 11 anos, eu roubei um livro (era uma
mini bíblia ilustrada da Turma da Mônica) de um colega na escola. Não foi por
mal, eu juro! Eu queria tanto e meus pais não iriam comprar. Não me lembro se
eu cheguei a pedir pra eles, mas éramos tão pobres que um livro não estava no
orçamento.
Uma vez eu encontrei, embaixo da minha classe, um
dicionário inglês-português, e peguei para mim, não o entreguei para a professora
– isso também foi errado.
Noutro dia, por curiosidade, abri o armário da
minha sala de aula e peguei um livro didático e coloquei na minha mochila. Na
minha cabeça não era um roubo, haviam vários iguais, mas era. Tanto era, que fui
dedurada por um colega, e passei a maior vergonha na frente da turma.
Aprendi a lição.
Depois disso eu nunca mais roubei, porém a minha
paixão por livros só aumentou, e mais ainda quando eu descobri um maravilhoso
acesso ao mundo de literário: a biblioteca da escola e mais tarde a biblioteca
municipal.
E desde então eu não roubei mais livros.
Quando uma obra é boa, seja o livro ou o filme,
prende o leitor/telespectador de forma tão intensa que as experiências
relatadas passam a ser sentidas.
E eu confesso que sou uma fantasiadora convicta.
A ficção nos
transporta para situações tão distantes da nossa realidade, e às vezes tão
próximas, que nos chocam, tanto quanto
nos confortam.
As palavras têm(muita) força, seja para o mal,
quanto para dar razão à vida.
Todo mundo tem uma história para contar. Todo mundo
já viveu um drama. Seja familiar ou pessoal. Histórias tristes, perdas, dores,
mágoas...
Quando eu tinha 13 anos perdi meu pai. Ele morreu
com 36. Hoje eu, também com esta mesma idade, conto esse capítulo muito triste
e doloroso da minha vida sem mais sofrer.
Já chorei muito relembrando tudo o que eu vivi, e
algo que me conforta é que não sofro mais pensando no que eu perdi – por não
ter meu pai presente – nem pela dor que eu imagino que ele sentiu.
As experiências que eu tive, e aquelas que eu não
vivi, na companhia do meu pai, eu busco realizar com a minha filha e com todos
que hoje são importantes na minha vida.
E para que servem as palavras?
Meu pai era um semianalfabeto que me ensinou (lendo
o índice de enciclopédias) a amar as palavras, tanto quanto a simplicidade da
vida... que é tão frágil.
Toda história tem início, meio e fim. Seja o
protagonista e faça a sua existência valer a pena.
A vida é assim, como citada no livro de Markus
Zusak: momentos no porão, períodos nebulosos, de muito frio, de sol e de céu de
esplendor.
Por fim – nem preciso dizer, mas eu digo: leia um
livro, escute seu artista preferido, assista um bom filme, vá ao teatro, vá ao
cinema, saia pra dançar, jantar... Viva!
Tirei essas lembranças lá do fundo do baú que
estava guardado no porão, dentro da caixinha de recordações.
Agora, com licença, que a vida segue, eu vou ali abrir
a porta e as janelas da vida para novas experiências.
*Jeanine de Moraes