Desde muito cedo eu
tive o discernimento de que a vida é frágil.
Tenho a nítida
lembrança de ver meus primos e outras crianças correndo durante o velório do
meu avô, e na época eu era também uma criança de apenas 8 anos. Depois deste,
fui a muitos tantos outros velórios.
Perdi familiares por
doenças graves, em que participei diariamente das dores. Era como se eu sentisse
suas dores físicas, e as dores da alma ficaram como cicatrizes em mim.
Vivenciei
tragicamente a perda de quem foi a pessoa mais importante em minha vida. Não
perdi, me tiraram.
Falar em morte pode
ser difícil e doloroso. Pensar na dor é muito sofrido.
Pensar no sofrimento
de quem está agonizando, o choque de um acidente, a colisão entre veículos, um
tombo na qual o corpo é atirado longe, arrastado e que segue queimando no
asfalto, a sensação quente de uma bala entrando, rompendo a carne, perfurando a
derme, um corte de faca rasgando sem nenhuma piedade, animais furiosos atacando
uma presa que está sendo abatida, vampiros sedentos em busca de sangue, leões famintos
em busca de carne!
A fragilidade de um
corpo pode ser definida em um laudo, num exame de óbito em hemorragia interna e
externa, profundas perfurações, um massacre com armas de fogo e armas
brancas... brancas e manchadas de sangue.
Falar em morte dói.
Pra mim já não mais com a mesma intensidade.
As dores que vivi me
ensinaram que não somos absolutamente nada nesse mundo.
Aliás somos. Somos
uma formiguinha no formigueiro chamado mundo. Somos uma formiga numa selva de
pedras.
E assim, como um
minúsculo inseto, é a nossa fragilidade diante à realidade do ato de viver.
Nosso corpo é como
uma máquina, que pode tanto sair da fábrica com algum mecanismo necessitando de
ajuste, como, por uma folga, afrouxar todo o funcionamento, ou ainda um tubo
pode entupir, a qualquer momento brecar, parar, falhar, quebrar, fundir...
Pois pronto. Só
chorar e lamentar não nos leva a lugar algum.
A vida é assim. A
dor ensina a gemer. Certos acontecimentos servem de alerta e de aprendizado.
Tudo pode estar bem,
e num instante algo acontece e nos faz lembrar quão frágil é a vida.
(*Jeanine de Moraes)
Um comentário:
Frágil e rara eu diria... e a gente sempre dá um jeito de complicar ela... né?
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