IMUNIDADE

Ai, meu Deus, como eu queria um bom emprego para ser feliz. Ai, meu Deus, quem me dera ter uma baita casa, com piscina, dois andares. Quem me dera viajar pelo mundo. Um cartão de crédito ilimitado, e com muito crédito. Aquele caro do ano, o carro da moda.
Tanta coisa, tantos desejos e aclamações... Tantos pedidos... Tanto que Deus é aclamado, é chamado em vão!
Houve uma época em que eu queria muito. O que eu queria? Ora bolas, eu não queria ser a mais bonita, ou a mais famosa da escola, pois eu sempre fui aquela brincalhona, a engraçada, a “boba da corte”, aquela com alto astral, que não brigava, que não ficava chateada com nada. Sim, eu era assim... era?!
E todo mundo me via de um jeito, e esse era o jeito de eu esconder, dentro de mim, a minha dor, a minha timidez. Sim, êta timidez que me deixava insegura, medrosa, apavorada de tudo.
Apesar disso, eu não queria ser o que eu não era.
Jamais me preocupei em ser a mais bonita - além do que eu era uma magrela comprida de longos cabelos negros e lisos que escondiam meu rosto -, jamais me preocupei em se a mais inteligente – sempre estive na panelinha das mais inteligentes, jamais queria ser a mais querida, a mais legal, nem mesmo eu queria ser a mais divertida.
Vou contar o que eu mais queria, aliás: o que eu não queria!
Eu não queria chorar pela dor da perda do meu pai. Eu não queria ficar com ciúme quando ouvia alguma amiga/prima chamando o seu. Eu não queria me sentir sozinha no mundo, pois ninguém me compreendia, ninguém entendia minha dor, pois eu não sentia apenas a dor de uma filha que perdeu o pai... eu sentia a dor da trágica morte dele. Eu sentia que meu passado somente era o que eu tinha. Eu só tinha o passado comigo, o futuro, futuro?! Quem era eu pra pensar nisso...
Como? Partindo de qual princípio?
Foi difícil, puta-que-pariu como foi difícil. Como chorei. Como me senti perdida. Como me senti sozinha. E como andei sozinha.
Por muito tempo eu detestava comemorar meu aniversário. Dia 25 de março era muito triste para mim, e não por eu estar envelhecendo, e sim por ser a véspera da data que perdi meu pai.
Mas felizmente a vida é dura, e as dores não são eternas. Felizmente há perdas, e muitos ganhos. Hoje em dia eu adoro meu aniversário, adoro comemorar, adoro quando as pessoas lembram de mim. É bem fácil de lembrar: meu aniversário é conhecido pelos consumistas, é o dia que dá nome àquela rua famosa pelas muvucas de São Paulo, a famosa 25 de março!
A comemoração do aniversário é uma data muito legal. Como na língua inglesa, birthday, é o dia do nascimento. Então, comemoremos a vida!
E eu tenho três décadas de vida, vida, louca vida, isso sim!
Mesmo que, tristemente, um dia após a data do meu nascimento, é da data do falecimento de uma pessoa que foi muito importante em minha vida, eu vibro por estar tendo, dia-a-dia, ano após ano, a oportunidade de ser FELIZ.
Se há 17 anos atrás (mais que o dobro de minha jovem vida) me perguntassem o que eu queria, talvez até eu diria imunidade. Mas, sem dúvida nenhuma, seria uma família!
Eu não queria nada de luxo.
Queria tanto poder ter meu pai perto. Ele que ia às reuniões da escola, que pegava e assinava meus boletins, que se preocupava e comprava Enciclopédia do Estudante (pois a Barsa era cara!) para nossos estudos.
Não quero menosprezar a minha mãe, mas meu pai foi meu ídolo. Meu pai foi uma pessoa humilde, super simples, trabalhador, honesto e com um histórico de vida que me emocionava, mesmo eu sendo uma criança.
As pessoas nascem e morrem.
Somente o fim é certo na vida.
Não temos imunidade suficiente para viver eternamente.
Mas temos o presente. Por isso que não sonho muito com o futuro, por isso que não sou muito ambiciosa.
Cuidado! De repente, num instante, PUFT!, tudo se torna passado.
(*Jeanine de Moraes)

2 comentários:

FBrito disse...

Hoje pela manhã, estava escrevendo uma mensagem pro teu blog... de repente... tive uma idéia, voltei ao meu e fiz aquela msg de abertura!
Realmente, cada gesto nosso, tão pequeno que seja, nos faz lembrar coisas boas.
Podemos multiplicar nossos gestos de carinho e bondade...
Obrigada por dividir as tuas idéias conosco!
Bjs

Cris Martins disse...

Uhuuuuuuuuu Isadora a bordooooooooooooooo
A dinda te ama Isa ou será IZA?
Com Z ou com S ???
Beijosssssssssssss da dinda feliz =]